Saiba por que a maior acessibilidade e qualidade do transporte público tem influências positivas no seguro de automóvel.
Estamos presenciando um momento histórico, com a explosão de manifestações populares por todo país em prol da diminuição das tarifas do transporte público. O movimento que iniciou com o Movimento Passe Livre (MPL) nas principais capitais brasileiras hoje já se alastra por todo o país, em cidades menores. A diminuição da tarifa anunciada ontem em grande número de cidades ainda se mostra insuficiente frente ao movimento, que pretende continuar até chegar a tarifa zero.
Nesse contexto, é importante mostrar a importância dessa pauta (tarifa zero no transporte público) para a sociedade em todos os seus níveis. Neste artigo, pretendo mostrar alguns aspectos positivos do transporte público para o mercado de seguros, principalmente para o seguro de automóvel, cujo preço tem subido nos últimos anos mas, num cenário de precário sistema público de transporte e aumento da violência no trânsito, se torna praticamente um “custo alto e obrigatório” para os cidadãos brasileiros.
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Como a insuficiência do transporte público afeta o seguro de automóvel?
Vamos ver passo a passo, de maneira simplificada, como a insuficiência do transporte público influencia o seguro de automóvel. Começaremos mostrando algumas variáveis que determinam o preço do seguro, para finalizar mostrando os efeitos negativos da precariedade do transporte público sobre essas variáveis.
Para que serve o seguro de automóvel?
O seguro de automóvel protege o dono do veículo de diversos riscos que ele corre dentro do trânsito. Alguns exemplos são o risco de colisão, risco de causar danos materiais ou corporais a terceiros, risco de danos a passageiros, risco de enchente ou alagamento etc. O seguro de automóvel protege financeiramente o segurado de prejuízos decorrentes dessas situações inesperadas.
E como o seguro de automóvel é precificado?
Precificar significa atribuir um preço a determinado produto. No caso do seguro de automóvel, há diversas variáveis que determinam o preço do seguro. Todas essas variáveis estão relacionadas ao risco de o bem segurado (no caso, o veículo) sofrer ou causar algum dano. Por isso dizemos que o preço do seguro é determinado pelo risco.
Alguns exemplos para você entender melhor:
- Quanto mais perigosa a região, maior o risco: A região em que o veículo passa a maior parte do tempo influencia diretamente no preço do seguro. Um seguro de um mesmo automóvel em Campinas (uma das cidades mais violentas do país) será mais caro do que em São João da Boa Vista (cidade bem menos violenta). Isso tem a ver com o maior índice de roubo, que torna o risco em Campinas maior.
- Quanto mais violento o trânsito, maior o risco: Algumas cidades tem maior índice de batidas e colisões, que normalmente estão diretamente relacionadas à violência no trânsito, crescente por diversos fatores como direção perigosa e imprudência, o uso de álcool ou drogas antes de dirigir, sono ao volante, enfim, uma infinidade de fatores que pode levar a acidentes graves, inclusive com perda total do veículo. Quanto mais violento o trânsito, maior tende a ser o preço do seguro, porque é aumento o índice de sinistralidade.
Há ainda infinitos outros fatores. São apenas dois exemplos, mas que ajudarão a ilustrar a influência do transporte público.
E como a precariedade do transporte público afeta tudo isso?
Já vimos para que serve o seguro e como seu preço é determinado. Ok, ok… Mas e daí? O que a precaridade do transporte público tem a ver com tudo isso?
A falta de acessibilidade e baixa qualidade do transporte público tende a engendrar um encadeamento de situações negativas, que acabam influenciando indiretamente no risco que, como vimos acima, é a variável chave na determinação do preço do seguro. Abaixo elencamos alguns desses pontos, mas vale ressaltar que há ainda muito mais!
- Sem transporte público, predomina o transporte individual:
Com a predominância do transporte individual, aumenta o risco. Quanto mais carros houver, maior a chance de qualquer tipo de incidente com veículos.Não é apenas uma questão estatística, mas também social. O Brasil é um dos campeões mundiais de mortes no trânsito dentro dos centros urbanos. E isso aumenta o preço do seguro em todos os sentidos: não só a cobertura usual de colisão fica mais cara, como a cobertura para danos materiais e corporais a terceiros. - Sem transporte público, a Nova Lei Seca se torna mera formalidade:A Nova Lei Seca foi criada com o intuito de diminuir os acidentes no trânsito, e tem sido bastante positiva. Mas vale a reflexão: O cidadão que sai para curtir com os amigos e tomar sua cervejinha, só tem praticamente um opção: o táxi. A falta de transporte público no período noturno, torna a lei seca praticamente uma formalidade, porque não oferece opção de transporte para o cidadão, que não o transporte privado (táxi).Isso faz com que muitos insistam em beber e dirigir (o que, é claro, não é justificável… mas é um fato). Com a persistência da violência no trânsito decorrente disso, o risco continua crescente – tal qual o preço do seguro.
- Sem transporte público, dificilmente se desconstruirá a máfia de desmanche ilegal:Um dos fatores que mais influencia o preço do seguro é o índice de roubo. Este, por sua vez, está diretamente ligado às máfias de desmanche ilegal, que roubam os veículos com o intuito de repassar suas peças. Discutimos isso neste outro artigo. Mas é preciso lembrar que só existe desmanche ilegal porque existe demanda para essas peças ilegais.A combinação da predominância do transporte individual junto a profunda desigualdade de renda brasileira (que determina a formação de um gigante contingente de pessoas de baixa renda que, ainda assim, tem carros e tem que lidar com os altos custos de sua manutenção), alimenta a demanda para essas máfias.
- Sem transporte público, predominam rodovias ao invés de ferrovias:
Quem vai viajar dentro do país, não encontrará opção pública de transporte, como metrôs ou trens. São uma raridade, apesar de a larga extensão de nosso país tornar as ferrovias a melhor opção. A predominância dos transportes individuais nas rodovias, seja com carros e motos de viajantes, seja com caminhões fazendo transporte de carga, aumenta assombrosamente o risco.Além dos danos sociais irreversíveis, como mortes e acidentes que geram centenas de inválidos, há um custo enorme para manutenção dessas rodovias com gasto público. Rebate no bolso do consumir não só com o gasto público, como no preço do seguro.
Enfim… Há tantos fatores, que fica até difícil de escrever sem transformar este artigo numa livro ou algo assim.
Transporte público diminui preço do seguro porque aumenta a segurança!
O fato é que a predominância de transporte público resolveria grande parte desses problemas, pois diminuiria diversos riscos. Além de colaborar no ganho de qualidade vida dos cidadãos, com a diminuição do stress e da poluição, teria efeitos indiretos no bolso do consumidor.
Não apenas o gasto com seguros diminuiria, já que seu preço tenderia a cair. Os gastos com manutenção do automóvel também tenderiam a cair, assim como o gasto do governo com rodovias gigantescas.
Por essa razão, além de um questão de responsabilidade social, acredito que a pauta por transporte público das movimentações recentes deve ter todo o apoio dos corretores de seguros, que enquanto profissionais liberais, só tendem a ganhar com a diminuição do risco, que dificulta seu trabalho e gera problemas para seus clientes.